quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Cortesã


Foste bela
Envolta em teus vestidos encarnados.
Foste exuberante
Desnudada em teus contratos
De rebeldia.
Bailaste em salões de festa
E foste bela
Em indizíveis orgias.
Comeste das uvas dos senhores
E consumidores de teus tinos.
Deste a eles teu segredo
E em troca, dedos e mimos.
E se não davas, vendias,
Se querias, oferecias,
E nas camas e cadeiras ou chão
Entregavas o corpo branco
A um não,
Mas a tantos
Que chegavam e que te pediam.
Homens novos
Maduros, cansados.
Solteiros viçosos
Visivelmente esfomeados
Por teu sabor de rosas,
Por teu cheiro de cravo,
Por tuas fogosas sabedorias.
E tinhas tudo que querias
Criadas e alegrias
Que te faziam roda,
Pra quem ditavas modas
Em tuas noites e dias.
Eram colóquios
De prazer arrancando vestes,
De gemidos incotestes.
E como gemias!
Eras cortesã fina de homens ricos
Em teus dotes embebidos a contrair dívida.
Eras dama intocável
Protegida mas indomável,
Amada
Muito amada por ser vadia.

Rômulo Andrade

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Amores mortos


perdeu seus amores todos que moravam em si
tão proibidos, escondidos
ninguém sabe ninguém vê
perdeu                                                            desmancharam-se no ar as possibilidades
de felicidade indevida e adocicada
por beijos de outras bocas
fecharam-se as portas de seu corpo
e o espírito, antes atrevido
hoje é comedido
renunciando paixões e gozos
planos de aventura
que por ventura um dia vieram
cairam em pedregulhos
machucaram seu orgulho de Eva
dormiram junto a ela
em noites de cio
e num suspiro esguio de mãos atribuladas
foram embora em revoada
deixando o líquido de seu sexo
a escorrer
molhando os sonhos apimentados 
de um possível encontro
a entrever pecados
ah Em prantos ficou ela
e os seios dela
e a boca dela
as nádegas
as extremidades que entumeceram
em prantos ficou ela
acabrunhada em panos íntimos
domesticando sua libido e seus ais
não mais insinuações
não mais provocações
não mais
ela
janela sensual de Eva
agora dorme agarrada aos fantasmas
de seus amores mortos

Gabriela