sexta-feira, 22 de maio de 2015

Por dentro


Por dentro
Por dentro
Por dentro
É que acomodas a semente
É que me deixas dormente
E quente

Por dentro
A invadir-me imperioso
É que tu me encharcas a gozo
Que depois a seu tempo
De dentro a fora
Vai-se embora, a contento

Por dentro
Vermelhidão
De fricção, de vai e vem intenso
Por dentro o coração
Também vermelho e sedento
Depois do fogo, a saliva
A água fria
Dos lábios que se enfrentam

Por dentro
A força do ser que se arvora
Na hora do contentamento
Depois a fraqueza que se apavora
A prever o firmamento
Entre estrelas e descontroles
Dos amores e dores do prazer ardendo

Por dentro o morrer de glória
O eu e tu agora
O somos nós e mais ninguém
Por dentro e por fora
Um instante que reinvento
Por dentro te vais
E eu deixo

E eu quero

Quero o teu membro a me varar
Quero tua boca a  degustar
Tuas mãos a me apertar
Teus olhos a se atreverem

Quero teu corpo a se perder no meu
Quero teu gosto a temperar meu céu
Queto teu cheiro a me perfumar
Quero por dentro, tua seiva e mel
A me adocicar

Gabriela


Poesia não se nega


Desculpa atrever-me tanto
E me dirigir
Desculpa as vezes que fechei tuas janelas de sono
Desculpa ter-te impedido fechar os olhos
Mas creio eles terem ferchado há muito
Desculpa atrever-me e transgredir regras
Até mesmo minha conduta
A tua, a dela
É porque nos caminhos que andei, pisastes
E não tenho culpa da paisagem que encontro
E se me parece boa
Apenas agi no natural e não me dei conta
Que não me é permitido
Que não és de mim
Que não sou para além do que a vida me deixou ser
Até agora
E se pensei bobagens e se as cometi
E se disse coisas que deveria ter calado
Ou poetisei possibilidades que deveriam ter morrido
Não tenho culpa e tu também não
Foi só uma coisa
Talvez nunca mais a ser sentida
Talvez tenha sido curiosidade
E depois melancolia
Vontade
E depois arrpendimento e decepção
Talvez tudo, menos o que se pensou que seria
Talvez não seja mais
A bem das partes
Mas quem sabe
Quem sabe o caminho floresça
E dê flores?
Eu não sei.
Só sei que poesia não se nega,
Corpo se nega
Companhia se nega
Ou se apedreja com desprezo
Olhares se negam se se fecham
Mas poesia não
Ela é senhora
E o respeito é dela
Mesmo em altas horas
A janelas de sono abertas


Mas desculpa outra vez
Atrever-me tanto.

Gabriela


Atreve-te


O quente da língua que te empresto
É a permissão que dou
Para que te atrevas mais.
O decote que quedo e que te dou à vista
É a permissão para que te intrometas
Que te metas comigo,
Que meta comigo
Uma horas dessas que o tempo fornece.
O olhar que te cata,
Esse olhar que desacata
Que é risonho e inquietante,
É a permissão que te dou
Para que me sejas amante
E de meus delírios
E que me ofereças lírios e mais, sempre mais.
A postos estou, aqui, entre teus anseios,
E se me buscas, não te envenenem medos e esperas,
Pois que estou aberta,
Feita em pétalas
Toda cheirando a prazer de ser
De dar, dedilhar tua carne,
De entrever teu olhar
A espreitar intimidade,
E me ver
Gemer baixinho e dengoso.
Se te inspiro essa fome
É que quero bem gostoso.
Se as dicas se põem a ti
É que quero-te dar a mim
Sem restrições, e pronto.

Gabriela

Desejo descabido


Tarde da noite eu penso...
Tão bom seria se eu não pensasse
Ao menos isso não pensasse.
Mas eu penso e isso me invade,
Tão bom seria se eu não sentisse
Essa invasão eu não sentisse.
Mas fato é que eu sinto e não tem jeito
Esse meu desejo descabido
Esse maldito desejo...
É porque imagino-me livre
Sem amarras, sem regras
Mas eu volto a visão e vejo
As grades enfeitando as janelas...
Mas eu recuo e vejo
As rosas vermelhas morrendo amarelas.
E por fora eu sou tão séria
Nem parece que me faço
Muitas vezes de perversão,
Nem parece que sou imperfeita
E que de certa maneira
Não impeço a imperfeição.
Quem me vê não me vê e é verdade,
Não enxerga minhas insanidades,
Mas vê a mulher de todo dia,
Tão movimentada e tão fria
Querendo fogo nos lençóis,
Nos lábios, nos braços
No entre nós...
E eu te falo, falo tudo quanto sinto,
Que não deveria sentir,
Muito menos dizer.
Mas eu te falo, falo tudo quanto penso,
Que não deveria pensar nem fazer...
Mas eu penso, sinto, necessito,
Esse desejo descabido
Impossível de se entender.
E se eu pudesse, encarnaria Brigitte,
Cleópatra, Jane Birkin,
Viveria o prazer...
Mas que ninguém saiba,
Porque a verdade me diz outra verdade:

Fique, não pense, não sinta, não deseje.

Gabriela