sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Pertencimento


Minha nudez pertence só a mim, querido
Eu permito debulhar-lha
Somente quem de gosto é
Somente quem desejo
Somente quem eu quero
E que me inspira esperança
Por entre estas ancas
E meus saberes de mulher
Se a pele me deixar curiosa
Se os olhos se aprofundarem
Se a conquista for generosa
Se tuas mãos me inquietarem
Poderei eu reconsiderar proposta
Nunca sob qualquer ofensa
Nunca se violares
Eu não estarei disposta
A ceder se me ordenas
E se a força me buscares

Minha obediência é somente a mim
Aos meus caprichos e vontades
Se me julgas por isso bem pequena
Eu te respondo que nada sabes
Eu rezo conforme minha novena
E nela eu decido sobre mim
Sobre minha possível indecência
Ou sobre minha talvez castidade
Se escrevo, se leio, se como
Se durmo, se brinco e se trabalho
A mim somente tudo cabe
As decisões que se arvoram
E no caminho me dá teu colo
Se quiseres, e se puderes, claro

Não me imponhas modelos fechados
Não me obrigues e nem me cales
Eu existo e tenho espírito
Eu sou inteira, não metade
Eu sei fazer além do que julgas
Eu sei dizer outras verdades
Talvez que discordam das tuas
Talvez que escandalizem a cidade
Mas que importam os outros
Se eu de fato não sou eles?
Que me importa se se importam tanto?
Só a mim e a quem permito cabe
Velar meu pranto
Ou minha felicidade.

Não me digas que estou errada
No meu jeito livre de amar
Não me julgues assim culpada
Por só ficar onde quero estar
Não me fiscalize a liberdade
Fora dos teus modos de cuidar
Poderemos aprender juntos, meu caro
Eu e tu
Um caminho haveremos de achar
Se combinamos em alguma paixão
Por que impor qualquer grilhão
Se podemos nos libertar?
Poderemos vivenciar igualdade
E quem sabe assim, sem correias
Em paridade
Combinamos nossas maneiras
De modo que tu me queiras
E eu bem te perceba
Como cúmplice de minha humanidade
Como honra da minha alegria
E e corpo e alma nessa alquimia
Farão tua vontade
Farão também a minha
Nunca tu somente
E nunca somente eu
Pois saibas tu que eu sou minha
Antes que seja tua
E tu só a ti pertence
Antes que sejas meu.

Gabriela

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Insensível e inexplicável adeus


Hoje amargo a dor da tua falta
Fazendo em minha vida
Essa saudade macula minha alma
Essa saudade faz ferida
A tua ternura longe
Os nossos corpos longe
E eu me perco afundada
Nas lágrimas que caem à tua lembrança
Amor qual o teu eu não tive mais
Eu não consigo
Eu não me atrevo a amar como te amei
Me dar como me dei
E depois sofrer
Rasgar cada pedacinho da minha resistência
Sangrar cada dívida da minha desobediência
Viver na distância do teu cheiro e tuas mãos
Parece o castigo ao meu coração
Que chora, desaba em tormentas
Amar a ti foi aprendizado e dor
Aprendi a não ser mais tão dada
Como fui ao teu amor
E por esse erro enorme
Hoje assisto a morte
Da paixão que me arrancou suspiros
Do amor que me trouxe brilho
Por umas contáveis noites que se foram
Teu amor, a mim tão proibido
Hoje repousa em poesias que não lês
Em desabafos noturnos que não vês
Em lágrimas copiosas que não sentes
Esse teu abandono
Esse teu silêncio
Nenhuma explicação, nenhum um porquê
Faz-me refém e o que consigo hoje é sofrer
Sofrer essa saudade e essa dor
Que não tem fim
Dia e noite tomam conta de mim
Tua imagem em minha mente
Tua presença em meu espírito
Eu quero esquecer
Mas não consigo
Pois eu te amo demais para isso
Eu te amo demais para não sentir
Tudo isso que vem de enxurrada
Meu amor não foi palavra infundada
Meu amor é o que de mais intenso
Já fiz por alguém.
E eu me culpo
Por ter-te feito tão importante
Por ter-te visto tão grande
E ter doado a ti minha sensibilidade
Minha lealdade
Minha vaidade
Meu tempo
Eu doei a ti o que eu tinha de melhor
Dentro de mim
Mas numa noite de passagem
Tu simplesmente me abandonas
Me largando sem piedade
Nos braços da solidão.
Hoje eu sigo sem saber bem qualquer coisa
Não sei se me recomporei
Não sei se te esquecerei
Não sei se de novo amarei
Mas sei que te amo ainda
E sim, amor,
Eu te desejo de volta
Mas me conformo aos poucos
Com as voltas que a vida deu
Levando-te de mim
E no lugar colocando

Um insensível e inexplicável adeus.

Gabriela