sábado, 29 de junho de 2019

Morreu um amor na cidade

Morreu numa manhã confusa
Um amor na cidade.
Era raiar de um dia
Bem acordado após noite de alegria
E de repente um corpo morto
Um corpo nu e morto numa cidade ao sábado.
Era um amor agonizado
Um amor que se rompeu nas veias e sangrou
As lágrimas de quando se acaba a vida.
Não havia sido uma vida gloriosa
Tampouco constante.
A cidade quase inteira não sabia
Daquele amor agonizante.
Mas ele viveu um pouco
Escondido bem no seu quarto confortável, esporádico.
Fez amor umas vezes e também promessas
Mas ele não tinha regras
E por isso mesmo morreu.
Morreu na pressa de uns três anos
Porque era teimoso e devedor.
Morreu porque também mentia,
Para si e para seu amor.
Eram tantas mentiras juntas
Que aquele amor se afogou inteiro
Nas profundezas da própria traição.
Eu chorei quando vi o amor morrer
Lamentei a falta que sentiria
Mas agradeci logo após por não deixar mais
Haver-me engolindo mentiras
Promessas infundadas e palavras ao vento.
Eu estava presa com ele, mas me libertei.
Um gole de vinho tomei,
Comemorei a morte daquele amor
Mesmo aos prantos,
Mesmo coberta de solidão.
Não haveria mais aquela paixão
Aquele sexo imprudente e gostoso
Não haveria mais os beijos intensos
Nem mesmo olho no olho.
Tudo havia passado com a morte daquele amor
Eu vi por trás daquela escuridão
Quanto tempo se perdeu
Quando achei que o encontrava.
Quanta tristeza havia
Quando eu por dentro sentia que o amava.
O amava demais
Mas a recíproca era falsa.
Ouro de tolo
Pedra bruta, sem chance alguma de ser lapidada.
Eu o deixei ir...
Seu corpo não mais iria se despir
Nem o suor das nossas peles se agarrariam mais.
Era o fim de tudo.
Na manhã daquele sábado confuso
Que se iniciava com as verdades cruas
Que se me apresentavam.
Eu não era o amor dele
Nem sequer algo parecido.
Eu era uma coisa qualquer
Um passa tempo furtivo.
Um prazer sem nome,
Um corpo sem alma.
Uma boca sem gosto,
Uma memória sem palavra.
Eu era uma coisa pra ele,
Aquele amor que me enganava.
Dizia no olhar cruzado
Que aquele amor vinha do passado
Que não iria me abandonar.
Mas me abandonou
Desde quando ele não passou
De um conquistador barato.
Mentiu, usurpou minha dedicação
Bebeu da minha paixão
E comeu da minha fidelidade.
Dormiu no meu respeito
Mas foi mesmo o primeiro
A não ter sequer dignidade
De me olhar no olho e pedir perdão,
Foi um amor covarde
Que morreu por ser uma fraude
A si próprio e à minha humanidade.

Gabriela