segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Mastigando a saudade


É uma ferida aberta, amor
Sangrando um sangue quente ainda
Não se fechou amor
Demora
E a cada hora é teu nome
Que chega a visitar
E me lembra que deixar de amar
Não é tarefa fácil
A cama não deixa
Os lençóis, as paredes
As panelas em que temperei teu feijão
Tudo quanto a memória tua traz
Me retira essa armadura
Essa dureza do coração
Uma lágrima cai 
Na primeira palavra que escrevo
E quando chegam as lembranças dos beijos
Que eu não sinto mais
Quando virá a tarde em que eu,
Voltando para a casa,
Não lembrarei de ti?
Quando enfrentarei os silêncios dos meus dias
Sem doer por ti?
Quando teu nome não será mais
Motivo de amargura
E saudade?
Saudade de nosso sexo ora doce
Ora selvagem?
Dos nossos encontros em fogo
Corpo em combustão
Alma em consumo inteiro
E mente em expansão?
Quando poderei seguir
Sem te ter marcado em mim
Como a ferro quente?
No meu íntimo, na minha pele
No meu útero, no céu da boca
Nas palma da mão, no coração,
No ventre?
Tu és minha tatuagem mais visível
O sentimento mais sensível
A dor mais intangível
Que me leva à poesia
De quem só tem tristeza pra escrever.

Gabriela

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Eu sou tua, apesar de outras bocas


Sim, amor
Eu beijei outras bocas
Mas nenhuma me cativou
Não era teu gosto que eu sentia
Eu tive momentos
Furtivos, esguios
Com outros em que tropecei
Mas nenhum foi de olhar tão fundo
Quanto o teu
Nenhum, amor
Me fez flutuar
Nenhum perdurou sequer uma hora
Nessa memória que é tua
Eu fui tua 
Mesmo em outros braços
E em outras bocas
Eu fui tua, de graça
À toa
Eu jamais me libertei
Da sensação de não conseguir viver
A vida normalmente sem você
Eu bebi outros beijos
Mas nunca com tanta sede
Jamais tão duradouro
O copo era vazio
Ilusão, solidão
Calafrio
Por mais que negues
Sempre foi amor
Um amor que dominou
Todas as minhas resistências
Mas eu queria fugir
Me reconstruir
Daquela relação de emergência
Mas nunca consegui, enfim
Dar cabo a esse sentimento
Que pulverizava todos os meus dias
Eu te amei demais
E minha solidão só aumenta
Porque o caminho precisa ser assim
Limpo, aberto, sem empates.

Gabriela

Ponto final


Eu não sei o que escrever
Assim de cara é tão difícil
Dar conta que o amor acabou
Que essa porta na cara foi tão forte
Perder teu amor para a distância
Para a segurança dessa novela
Que mostras para o mundo
Perder teu amor assim
De um dia para o outro
Num momento escuso...
Não minto que o coração parte
Em mil pedacinhos
Nos quais me corto e sangro
A alma se acabrunha
E aquela tão linda esperança 
Vai embora voando com a lembrança tua
Eu te quis um dia tão meu
Eu te tive entre os braços tão meu
E achei que a felicidade
Fosse aquele retalho de encontro
Que tínhamos vez e outra
Eu não me dava conta
Que minhas contas não batiam
E você... você era agonia
Penetrante, incessante
Quase eterna
Mas eu te queria mesmo assim
Gotejando no meu corpo o teu suor
Regando minha boca à tua saliva
Orvalhando meu ventre com teu amor
Tão quente, que corpo abaixo escorria 
O amor ia e vinha
Nossas noites, nossas fomes postas à mesa
Olho no olho feito fera e presa
A gente era... a gente era
E eu não queria defesa
Mas agora, eu não sei como te chamar
Te chamo de amor?
Te chamo pelo nome?
Ou não te chamo?
E como amo aquilo que não posso amar?
E como agora posso querer
Aquilo que não posso ter
E nos meus braços estreitar?
Como será essa vida
Sem te perceber de modo algum?
Pedistes para não mais falar
E eu calo por compulsória
A vida me coloca esse não a ressoar.
Não posso. Não devo.
Mas como posso apagar o que está fincado?
Eu não sei....
Apenas sei que o que escrevo é confuso
Desequilibrado
Tanto quanto esse instante em que
Não devo pensar em ti e penso.
Eu penso...
E por dentro me rasgo os sentimentos.

Gabriela

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Aquele amor


Aquele amor foi fogo
Que em dias frios aqueceu
Mas não aqueceu em todos
Muitos deles o frio teve de ser suportado
Com a coragem guerreira que não se sabia
Que não se conhecia
Que foi obrigado se ter
Aquele amor de abraço apertado
Nem sempre pode abraçar e ficar
E contar outros segredos
Os risos eram sinceros
Os beijos também
Naquele amor tudo era puro e real
Mas o sempre não veio
O eternamente não se apresentou
E eu amei aquele amor
Mais do que podia
E sentada numa esquina da esperança
Espreitei uma carruagem florida
Pra me levar a teu encontro
Mas aquele amor errou
Quis demais o que não se podia ter
E sonhou demais com realidades sem chão
Aquele amor rasgou minhas resistências
Me fez frágil e punível
Por mim mesma
Esquecida nas minhas lembranças
Tentei achar a solução
Mas ela nunca existiu
Aquele amor era amor demais
Mas os caminhos eram tortos 
Para um caminhar tranquilo
Eu segui sozinha
Observando os matinhos pelos caminhos
As nuvens no céu dos meus pensamentos
E os sussurros de paz
Que eu buscava
Naquele amor eu amei como se ama e nada mais
Mas eu voltei
Estou voltando
Aos poucos estou me reencontrando comigo mesma
E deixando aquele amor passar

Gabriela

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Reticência


Este tempo é uma incógnita, amor
Este tempo que é intermédio entre tu e eu
Este tempo reticencioso 
Vagaroso, quase infindo
E o meu anseio é de te sentir
O mais rápido possível
É ter-te perto
Bem perto e bem vivo
É de dissolver-me nos teus beijos
E sentir-me cravada em teu corpo
E este tempo não passa
Passam pela rua pessoas cansadas
Apressadas, preocupadas
Passa pela janela o vento quente
Passam tantas coisas pela gente
Passam sonhos e promessas tantas
Passa tudo, tudo passa
Só não passa essa ânsia
De ser tua outra vez
E os últimos minutos de espera
São de coração que acelera
Respiração que ofega 
Corpo que arrepia.
Os últimos minutos são de completa euforia
Mistura de ansiedade, saudade, desejo
Uma confusão de sentidos e conceitos
Nada se aquieta até que tuas mãos me encontrem
E possam dedilhar minha pele inteira
Nada se acomoda até que tua boca
Possa me salivar a nudez inteira
Nada se assossega até que os últimos suspiros 
Sejam rendidos em nossa honra
Pela inquietante cama
Em nossa deliciosa sobremesa

Este relógio, no entanto, teima em desfazer de mim
Este tempo, no entanto, teima em ser maçante
E fazer-me aborrecer nessa espera entediante.

Gabriela

terça-feira, 9 de maio de 2017

Saudades


Amor, estou com saudades.
Saudades de teu aroma só teu
Que um dia me embriagou.
Saudade da tua língua
Me trazendo palavras doces
E fazendo doce o nosso amor.
Saudade dela a buscar segredos guardados
Em minha boca,
Saudade dela, sempre inquieta
A mapear meu corpo sem roupa.
Amor, estou com saudades
De nossas conversas
De nossos momentos de falar bobagem.
Estou com saudades de nosso banho juntos
Sinto falta de nossos jantares.
Sinto falta de abraçar bem forte
E sentir tua respiração e tua vontade.
Saudade de me entregar a ti 
Como se fosse propriedade,
De me deixar dominar, 
Como se não houvesse liberdade.
Te quero de novo
Te amar mais um pouco
Ser tua mais um tanto
Com a mesma intensidade.

Gabriela

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Pertencimento


Minha nudez pertence só a mim, querido
Eu permito debulhar-lha
Somente quem de gosto é
Somente quem desejo
Somente quem eu quero
E que me inspira esperança
Por entre estas ancas
E meus saberes de mulher
Se a pele me deixar curiosa
Se os olhos se aprofundarem
Se a conquista for generosa
Se tuas mãos me inquietarem
Poderei eu reconsiderar proposta
Nunca sob qualquer ofensa
Nunca se violares
Eu não estarei disposta
A ceder se me ordenas
E se a força me buscares

Minha obediência é somente a mim
Aos meus caprichos e vontades
Se me julgas por isso bem pequena
Eu te respondo que nada sabes
Eu rezo conforme minha novena
E nela eu decido sobre mim
Sobre minha possível indecência
Ou sobre minha talvez castidade
Se escrevo, se leio, se como
Se durmo, se brinco e se trabalho
A mim somente tudo cabe
As decisões que se arvoram
E no caminho me dá teu colo
Se quiseres, e se puderes, claro

Não me imponhas modelos fechados
Não me obrigues e nem me cales
Eu existo e tenho espírito
Eu sou inteira, não metade
Eu sei fazer além do que julgas
Eu sei dizer outras verdades
Talvez que discordam das tuas
Talvez que escandalizem a cidade
Mas que importam os outros
Se eu de fato não sou eles?
Que me importa se se importam tanto?
Só a mim e a quem permito cabe
Velar meu pranto
Ou minha felicidade.

Não me digas que estou errada
No meu jeito livre de amar
Não me julgues assim culpada
Por só ficar onde quero estar
Não me fiscalize a liberdade
Fora dos teus modos de cuidar
Poderemos aprender juntos, meu caro
Eu e tu
Um caminho haveremos de achar
Se combinamos em alguma paixão
Por que impor qualquer grilhão
Se podemos nos libertar?
Poderemos vivenciar igualdade
E quem sabe assim, sem correias
Em paridade
Combinamos nossas maneiras
De modo que tu me queiras
E eu bem te perceba
Como cúmplice de minha humanidade
Como honra da minha alegria
E e corpo e alma nessa alquimia
Farão tua vontade
Farão também a minha
Nunca tu somente
E nunca somente eu
Pois saibas tu que eu sou minha
Antes que seja tua
E tu só a ti pertence
Antes que sejas meu.

Gabriela

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Insensível e inexplicável adeus


Hoje amargo a dor da tua falta
Fazendo em minha vida
Essa saudade macula minha alma
Essa saudade faz ferida
A tua ternura longe
Os nossos corpos longe
E eu me perco afundada
Nas lágrimas que caem à tua lembrança
Amor qual o teu eu não tive mais
Eu não consigo
Eu não me atrevo a amar como te amei
Me dar como me dei
E depois sofrer
Rasgar cada pedacinho da minha resistência
Sangrar cada dívida da minha desobediência
Viver na distância do teu cheiro e tuas mãos
Parece o castigo ao meu coração
Que chora, desaba em tormentas
Amar a ti foi aprendizado e dor
Aprendi a não ser mais tão dada
Como fui ao teu amor
E por esse erro enorme
Hoje assisto a morte
Da paixão que me arrancou suspiros
Do amor que me trouxe brilho
Por umas contáveis noites que se foram
Teu amor, a mim tão proibido
Hoje repousa em poesias que não lês
Em desabafos noturnos que não vês
Em lágrimas copiosas que não sentes
Esse teu abandono
Esse teu silêncio
Nenhuma explicação, nenhum um porquê
Faz-me refém e o que consigo hoje é sofrer
Sofrer essa saudade e essa dor
Que não tem fim
Dia e noite tomam conta de mim
Tua imagem em minha mente
Tua presença em meu espírito
Eu quero esquecer
Mas não consigo
Pois eu te amo demais para isso
Eu te amo demais para não sentir
Tudo isso que vem de enxurrada
Meu amor não foi palavra infundada
Meu amor é o que de mais intenso
Já fiz por alguém.
E eu me culpo
Por ter-te feito tão importante
Por ter-te visto tão grande
E ter doado a ti minha sensibilidade
Minha lealdade
Minha vaidade
Meu tempo
Eu doei a ti o que eu tinha de melhor
Dentro de mim
Mas numa noite de passagem
Tu simplesmente me abandonas
Me largando sem piedade
Nos braços da solidão.
Hoje eu sigo sem saber bem qualquer coisa
Não sei se me recomporei
Não sei se te esquecerei
Não sei se de novo amarei
Mas sei que te amo ainda
E sim, amor,
Eu te desejo de volta
Mas me conformo aos poucos
Com as voltas que a vida deu
Levando-te de mim
E no lugar colocando

Um insensível e inexplicável adeus.

Gabriela

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Quero-te sem negar nenhum sentido


Amor, 
Quero-te sem negar nenhum sentido
Que é isso tudo
Esse amor
Esse insulto de tua existência
À minha sensatez
Perco toda ela
Me vejo catando estrelas
Para a ti doar
Me vejo feio onda do mar
Indo em vindo
Na tua vida
E sendo coisa linda
Ora leve, ora ferida
Me vejo querendo-te mais
À minha sorte felicitando
Ao meu corpo reencontrando
Para os nossos olhos, em se encontrando,
Reflitam nosso amor que não morre 
E insiste numa estrada sem rumo
Com muros
Com fins e recomeços
E nossos beijos nos levam sempre
A nos deitar logo 
Nos pondo rápido em berço
Em ninho de amor
Porque somos isso
Uma sina de amor indizível
Em que seu cheiro é pra mim perfume raro
E seu toque é pra mim incomparável
E seu beijo, e seu abraço
São onde me perco e me acho
Porque do teu amor quero 
Me alimentar e respirar
O mais que puder
E der
E vier. 
Eu te amo
Muito mais que parece ser.


Gabriela

domingo, 22 de janeiro de 2017

Eu te dei o melhor que eu tive para dar


Eu te dei, amor
O que de melhor eu tive para dar
Dei a essência do meu amor
Meu perfume à nuca
Minha educação, dedicação
Intensidade à cama
Poesias de quem ama
E amei
Me entreguei inteira
Na minha nudez
De alma e corpo
E muito pouco deixei de dar
Não dei por teres me cortado
Os laços que me pus a reforçar
Eu te dei meus olhos em lágrimas
E minha boca molhada
Meus carinhos mais lindos
Depositados em teu corpo nu
Te neguei bem pouco
Mais por tão pouco eu ter tido tempo
Te dei esse imenso desejo
De ser consumida
Por tua fome
Eu te dei meu nome
Escrito a gozo intenso
E te dei meus soluços e gemidos
Te dei minha libido
Disposta e crua
Me entreguei nua
Aberta feito flor
Eu te dei, amor
O que de melhor eu tive para dar
Me despi de mim mesma
Muitas vezes
Para a ti poder amar
E te ter dentro de mim
E te ter carregado nas mãos
E nos olhos
E nas nádegas
No sexo exposto
Nos seios apontados
Nas costas suadas
Nos cabelos desalinhados
Na poesia toda que foi ser tua.

Gabriela

sábado, 21 de janeiro de 2017

Deixa


Deixa eu amar você um pouco mais
Deixa eu gastar as solas desse amor
Deixa eu caminhar e cansar
Do teu lado deixa eu descansar
E depois comigo faz amor
Volta pra mim mais tantas vezes
Nesta vida ou em outra que seja
Neste mundo ou onde for
Me dê o espelho do teu olhar
Pra que eu ajeite meus cabelos
Que você desalinhou
Deixa eu ter o teu cheiro perfumando
Após o banho compartilhado
Após o jantar jantado
Após o frio ou o calor
Deixa eu segurar tuas mãos e apertar
Deixa eu simplesmente imaginar
Que posso ao teu lado ser estrela
Brilhar sem fechar janelas
Deixa eu ser flor que sempre se rega
Deixa eu enfeitar seu trabalho
Suas viagens
Deita comigo um bocado
E faz amor
Faz amor sempre
Mesmo sem ser possível
Deixa eu eu gastar esse meu combustível
E comigo faz amor
E mais
E mais
Do jeito que eu gosto
No teu corpo eu me encosto
E já percebo um fervor
Deixa eu ficar um pouco mais
E na tua comida mateira
Deixa eu ser sabor

Gabriela

Boca encarnada


Tua boca encarnada
Aponta longe pelas estradas
Por onde percorro, desavisado
Vejo então teus lábios
Dançando em sorrisos soltos
E passo a os querer
Quero para os morder 
De vagarinho
Com carinho
Cuidando de você
Moça faceira 
Que finge não ser
E nem saber
Que aqui tem pouso sem erro
Vem cá e eu te beijo
Faço poesias até
Tua boca encarnada, 
Ah tua boca, mulher!
Imagino ela me escrevendo
Docemente alguns carinhos
Molhados, bem íntimos
E ecoando alto
Gemidos de amor
Ah moça faceira
Que me embeleza o olhar
Quero provar
Da tua boca o sabor.

Rômulo Andrade

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Lembranças dormidas


Sim, a saudade invade o quarto
E os espaços por onde existiu aqui
A saudade é fel
E engasga meu sossego
Vez e outra
Teu beijo
Vez e outra
Teu cheiro
É a lembrança triste
Dos dias que fui incompletamente completa
Nos teus braços
Sem regras
Eu era tudo ao alcançar o céu
A saudade, sim, a saudade
Ela é muito ainda presente
Nessa falta que faz você
Mas você não me machuca mais tanto assim
Tua passagem em meus caminhos
Parece então ir perdendo os rastros
Devagar, meio triste ainda
Mas decidida já
Vai tocando o fim
Tua passagem vai adiante
Seguindo o rumo que sempre quis
E agora as tuas lembranças
Tentam se acomodar nos móveis
Nas paredes
Nos azulejos
Na poesia
Elas meio bagunçadas 
Ainda fazem barulho muito
Na sala gritam teu nome
No quarto gozam de amor
Batem panelas na cozinha
Mas elas sabem que dormirão
Logo chega a noite
E elas dormirão
Serão delicadas então
E meu espírito enfim
Conseguirá deitar à cama
Sem o incômodo da saudade.
Elas dormirão
Eu descansarei.

Gabriela

Fibras e cordas


Hoje, amor
Eu deixo você partir
As lamentações todas já se puseram sobre a cama
Meu peito já doeu tanto
E tanto só chorei tua perda
E tanto só rasguei a alma em mil pedaços
Tanto só senti a saudade amarga
Do teu nome e tua voz
Do teu gosto e palavras
Mas tanto só também me refaço
E busco abrir meu mundo
Para um novo abraço
O que não seja o seu
O que não doa mais
Hoje, amor
Eu deixo minhas grades com você
Abandono a vontade implacável
De ser o que nunca fui
Na sua vida
O que nunca poderia ser
Meu corpo frágil ainda
Se pergunta por que não você
Onde você?
Onde aquele amor todo que me fez morrer
E viver, e morrer mais
O meu corpo abre as janelas
Que antes se fecharam a olhos outros
Que antes dedicaram os perfumes das flores só a ti
Hoje, amor
Minhas fibras conseguem ser mais fortes
Que tuas cordas
Que dentre meses tantos 
Me acorrentaram no teu amor intenso
No prazer imenso
No teu ser que sempre foi só teu
Teu amor foi vento
Ventania
Teu amor me deu ar suspenso
Me deu momentos 
De inexplicável Alegria
Indescritível sedução
Mas foi prisão
Dominação
Submissão
Agonia
E amor mesmo amor não comporta isso
Pode a dor, pode o conflito
Mas cordas não, cordas não
Hoje, amor
Eu deixo você ir levando minha paixão.

Gabriela