sábado, 14 de maio de 2016

Envergadura


Os erros não consertarei
As dúvidas não esclarecerei
Os caminhos tortos serão eles mesmos
O passado não voltará
Mas o que ficou não vai
Mora guardado no mais fundo
Dos lugares da alma
E posso dizer em confissão
Que ficarão teus passos na escada
O teu cheiro nas cobertas
Fios de cabelos nos lençóis
Tua memória e tua devassidão
Tua glória e paixão de nós
Teus pés macios em minhas mãos
Tua rosa delicada
Tua voz.
Posso dizer dos textos que te fiz
Dos poemas que chorei
Da saudade que senti
Em te ter em meus cômodos
Acomodada
Nua
Linda
Sem nada
Aberta em tuas páginas rosadas
Convidando a amar
E eu ia
A devagar roçar-me em tuas pernas
Entregue, sem regras
E tinha teus pés faceiros
A passear em minha barba
Eu os mordia
Eu os beijava
Eu os queria
Para o amor alvoroçar
Teus seios à meia luz
Teus braços largados
Teu rosto caído um pouco
Um pouco de lado
Teus cabelos finos
Na poltrona deitados
Tudo me vem como fotografia
Tua imagem pouco esguia
Teus gemidos como sinfonia
E logo após tudo em cavalgada.
O perdão não terei
O amor não voltará
Mas o que ficou não vai
Tenho as marcas de teus dentes
E o molhado de tua língua
Tenho o doce de tua flor
E porque tudo me destes em ardor
Aos teus pés eu me envergo
Para que me deixes chorar.

Rômulo Andrade

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