terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Coito


Se a noite abaixa suas estrelas
Para que possamos admirar
Quero junto de ti a noite passar
Nessa varanda aberta
Afeita ao céu que nos cobre

Quero deixar que nossos olhos
Se escureçam na intimidade do beijo
E por conseguinte
Deixar que nossos desejos
Sejam cama para o nu de nós dois

Pois sim 
Essas horas altas
Que a morte do dia empresta
Nos deixa muito frágeis
Se há amor
Se há carne e paixão
E ainda mais em solidão, em silêncio
Em carência de meses
Então fazemos as vezes
E não muito aguardamos
Somente as estrelas

E enfim nos amamos
Conforme a sorte deixa
Coito livre ainda que silencioso
Já que varandas não permitem uivos
Já que ouvidos outros se aguçam

Ainda assim
Travamos um amor bom
Um sexo inesquecível
Em que nossos líquidos se enamoram
Se trocam, se permitem
Tua vagina aberta
Teus seios em imprudência
Tua boca sussurrante
Nossas mãos, intensas
Nossas bocas casando
Nosso corpo inteiro em vida plena...

Ah! É no coito que a gente se vê humano
E no amor se deixa estar
Nesse amor ora vagaroso
E depois louco por no céu se achar
Entre as estrelas que iluminam a cidade
Junto com nosso mel a adocicar

Ah sim, amor
Tão doce é te ter nua entre os braços
E poder sentir teu sabor mais íntimo
Teu gosto escorrido de tuas portas secretas
Tua saliva ansiosa em minha saliva imersa
Teus cabelos em descontrole
E meus pulsos em festa

Não há nada melhor
Nada que se compare
E que se beba a embriagar tão rápido 
Quanto os sentidos do coito
Afoito
Perverso
Avaro

No fim, resta a calmaria das respirações que se aquietam
E as marcas de unhas e dentes impressos
Em nossa pele que nada sente
Porque anestesiada de desejo é

Ficam as estrelas no céu, a cidade calada
E nós como anjos nus
No chão
Pecadores
A contemplar a felicidade do gozo.
Do coito, da vida.


Rômulo Andrade

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